Por Marcelo Cardoso para Think Work Lab

Pensar o futuro nos convida para o desafio de não só nos superarmos como conseguirmos nos integrar, escreve Marcelo Cardoso para a Today

A mais recente investida do bilionário sul-africano Elon Musk, com a aquisição da plataforma Twitter, coloca mais uma vez o holofote sobre o empresário e acende uma série de polêmicas e debates mundo afora.

Talvez, de forma mais abrangente, a raiz desta discussão seja aquilo que Musk representa como visão de futuro para a humanidade. Em suas polêmicas e contradições, em seu senso libertário e sua crença e esforços investidos na alta tecnologia, Elon Musk é uma proeminente voz em torno do Transumanismo. Como exemplos da ambição de Musk, estão suas iniciativas em busca da exploração espacial e seu projeto de transferir o seu cérebro para um computador, na busca da vida eterna.

O Transumanismo não é o único caminho que se apresenta para a humanidade. Em 2019, a Philips divulgou um interessante relatório, “Co-emerging Futures”, de Reon Brand, apontando que da crise civilizatória atual estão emergindo 4 diferentes vertentes buscando caminhos para a humanidade.

Duas destas vertentes estão fundamentadas na capacidade que a humanidade teria de, através da tecnologia, superar suas limitações e necessidades atuais. São elas o (1) Transumanismo, cuja premissa central consiste em formatar o planeta (e o espaço) para servir a civilização humana, e (2) o Pós-Biológico, cuja premissa consiste em abandonar a biologia como portadora e suporte da inteligência. São vertentes da transmutação da experiência humana no planeta, queimando as pontes com o passado.

As outras duas vertentes estão fundamentadas na relação intrínseca do homem com a natureza, e direcionam seus esforços na preservação do meio ambiente. São elas (3) a Sustentabilidade, que busca o equilíbrio da civilização humana com a natureza, através da adaptação sustentável do homem, e (4) o Ecocentrismo, que posiciona o homem e a civilização humana à serviço de nutrir a saúde do planeta pela regeneração. São caminhos preservacionistas que pedem um passo atrás ao homem, e uma mudança em suas buscas e intenções.

Todas estas linhas co-existem e ganharão força nos próximos anos e décadas, e, se formos honestos com aquilo que não sabemos sobre o futuro, todos estes caminhos podem vir a ser bem sucedidos em suas intenções.

O poder da integração

Particularmente, eu acredito que todo processo saudável de desenvolvimento, individual e coletivo, envolve movimentos de integração e de superação (ou transcendência). E se a tecnologia já nos dá os meios para a superação, somente o esforço da nossa consciência nos dará a oportunidade de integração.

Integramos todas as vezes que damos um passo de inclusão de tudo que foi negligenciado, quando olhamos para dentro em nossos padrões e dinâmicas inconscientes e aprendemos com nossos erros do passado e restauramos a saúde do sistema. Esse é o movimento que nós, indivíduos e organizações precisamos fazer agora de forma intencional e profunda, pois ainda temos um grande gap de integração na humanidade, com os desafios da desigualdade social, da crise de significado e o desequilíbrio climático. Passado mal integrado torna-se destino não desejado.

O processo de integração é o caminho da regeneração. As organizações podem ser promotoras deste movimento, criando contexto de desenvolvimento para todos os stakeholders:

– Com acionistas e C-levels, explicitando e promovendo o sentido de um propósito genuíno na organização, incluindo uma agenda de impacto e sustentabilidade que considere capitais humano, social, cultural, de saúde, de meio ambiente, etc.

– Com gestores e lideranças, optando por modelos de gestão integral, que crie espaço para o desenvolvimento integrado dos indivíduos, que crie um ambiente de relações autênticas e nutritivas, ao mesmo tempo que implementam uma gestão dinâmica para lidar com os contextos complexos.

– Com equipes, fornecedores, comunidades e clientes, adotando práticas éticas e o diálogo transparente, oferecendo contextos, serviços e produtos que contribuam para a reflexão, bem-estar e desenvolvimento humano e social.

Para todos estes públicos, como base de sustentação, está o convite para tornarem-se conscientes de seus processos de autoconhecimento, entendendo seus gatilhos e dinâmicas inconscientes que podem impedir ou estar à serviço para a regeneração e para a vida. É preciso se conhecer profundamente.

Que nossas ambições de sermos super-humanos se transformem em ambições de sermos profundamente humanos.

Elas podem, finalmente, encarar seus potenciais antes inexplorados. Esse é o momento em que o indivíduo pode reconhecer seus recursos como potenciais para realizar um propósito pessoal, e é essa a chave que pode conectar o indivíduo e a organização, um propósito ou um significado comum ou compartilhado.

Que nossas ambições de sermos super-humanos se transformem em ambições de sermos profundamente humanos.

Este encontro é aquilo que, acredito eu, permite uma nova e excitante relação de trabalho, em que indivíduos estão dispostos a aprender e a evoluir. Mais do que isso, estão dispostos também a desaprender aquilo que não vale mais carregar do passado, se abrindo ao mistério do potencial daquilo que ainda não entendemos, mas que está pronto para emergir, entendendo que estes são desafios pelos quais vale a pena trabalhar e viver.